4 Passos para perder a vergonha de mostrar os aparelhos auditivos

Sei o embaraço que é não nos sentirmos bem por sermos diferentes ou no Verão estarmos a morrer de calor por vergonha de apanhar o cabelo e alguém notar os aparelhos auditivos. Regra geral, para as raparigas é mais fácil de esconder se tiverem o cabelo comprido, do que para os rapazes. ⁣

Perder a vergonha dos meus aparelhos auditivos foi um dos meus maiores desafios. Inventei mil e uma maneiras de escondê-los com penteados, fitas ou lenços. Tenho problemas auditivos desde os 5 anos, contudo só por volta dos 26 anos é que comecei a sentir-me melhor em relação à minha surdez e a mostrá-los sem pudores dos olhares alheios.

Foto dos últimos aparelhos auditivos que usei.
(Nos dias de hoje uso implantes cocleares)


Seguem 4 passos que me ajudaram no meu percurso de diminuir os complexos em relação às próteses auditivas:

1. Autoceitação é uma escolha e um processo pessoal ⁣
Lembro-me de uma tentativa que fiz no secundário. Fui para as aulas de cabelo apanhado. Estava na boa, mas assim que vi os olhares curiosos a virarem-se na minha direcção... Acobardei-me. ⁣
Primeiro que tudo e antes de mostrares os aparelhos ao mundo, preocupa-te em ficares confortável e sentires-te bem com eles. ⁣

Começa em casa, em ambientes resguardados. E faz um exercício pessoal:⁣
Porquê que me incomoda tanto mostrar os aparelhos? É por causa dos olhares e julgamento dos outros? És tu que ainda te sentes insegura por causa dos teus problemas auditivos? É o desconforto de ser notada como alguém diferente? Tens receio que te tratem de forma diferente por notarem que és surda? ⁣

2. Pesa a balança⁣
Os aparelhos auditivos ajudam-te? Sentes-te bem quando os usas? Ouves melhor? Sentes-te mais confiante e confortável? Se respondeste sim, supomos que eles são uma mais valia e te dão mais autoestima. Agora a grande questão é: Vale a pena perder a tua qualidade de vida, sentires-te mal, por causa do que os outros pensam? ⁣

3. Começa simples e com pequenos passos
Escolhe um local pequeno para treinares a tua exposição em público. Uma sala de aulas, casa de familiar, etc... Mostra os aparelhos durante um X tempo. Por exemplo 15 minutos. Depois vai aumentando gradualmente o tempo, até os mostrares em full time 😜 ⁣

4. Adapta os aparelhos auditivos ao teu estilo⁣
Hoje em dia há muita escolha de cores nos aparelhos auditivos. Podes optar por um modelo mais "soft" e semelhante à do teu cabelo.⁣
A tecnologia tem evoluído e a maioria das próteses são pequenas e discretas, logo quase nem se notam. Se estiveres à-vontade também podes ser mais ousada e usar um que tenha cores fortes ou personaliza-lo. ⁣

Não tenhas vergonha de usar algo que te ajuda no dia-a-dia 💪


Alguma vez sentiste complexos em relação ao uso das tuas próteses auditivas ou implantes? Conta-me a tua experiência.

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2 Comentários

euzinha disse…
Por acaso, nunca tive vergonha, mas penso que terá a ver com a idade em que comecei a perder audição - tinha 42 anos, tive perda súbita que passou a progressiva ao fim de um mês ou dois. Na altura tinha muitos zumbidos/acufenos/tinnitus , muito altos e surdez flutuante, que me levava a num minuto perceber o que me diziam, no minuto seguinte ter muitas dificuldades, voltar a perceber, ter de repente uns ruídos tão altos que tinha de me isolar e tentar adormecer para descansar. Passado algum tempo a audição continuou a flutuar mas menos, já não no mesmo dia, embora a perda continuasse e fui aconselhada a arranjar próteses rapidamente, para poder andar mais em segurança na rua e poder perceber algo do que me diziam, mesmo enquanto aguardava para saber os efeitos do tratamento que tinha iniciado. Optei por uma prótese para o ouvido pior, o outro tinha na altura «apenas surdez ligeira a moderada» e os €€€ não abundavam. Foi um deslumbramento o recomeçar a ouvir sons de que me tinha já esquecido naqueles meses (4 ou 5) e perceber de modo geral o que me diziam. Regressei ao mundo dos sons percebido se tive a sorte de me adaptar muito bem , em poucos dias. Um ano mais tarde , comprei a prótese para o outro ouvido. A felicidade que senti, porque o diagnóstico era bem pesado, embora incerto quanto à questão da perda de toda a audição, porque me senti renascer um pouquinho no meio de uma situação de saúde complicada e que me causava muitas limitações, foi o meu «totoloto»! Ao contrário do que pensava quando era miúda e via as próteses do meu pai, não fiquei triste por ter de as usar, mas sim um pouco aliviada por haver algo que me podia ajudar. Havia muita coisa que não podia controlar, muita incerteza em relação ao meu futuro pessoal e profissional, muitas limitações diárias e a prótese iluminou os meus dias. Repito, era adulta e a prótese veio num momento muito difícil, no meio de muitos problemas, talvez por isso tenha reagido assim.
L. Chantilly disse…
@euzinha Sim, a idade e contexto sem dúvida quem influenciam. Como já eras adulta viste o uso de próteses por outro prisma (e ainda bem!) Acabou por te trazer mais saúde e bem-estar ;)